NOVAS ESCOLAS PARTICULARES DE BAIXO CUSTO ATRAEM ALUNOS DA CLASSE C

Fortalecimento da classe C antes da crise econômica. Redução de poder aquisitivo das faixas média e média alta nos últimos cinco anos, forçando pais a matricular os filhos em colégios particulares mais baratos. E um histórico espaço de mercado gerado pelo sonho de milhões de famílias de transferir seus filhos de escolas públicas para particulares em busca, sobretudo, de segurança e qualidade de ensino.

Esses fatores incentivaram gigantes e investidores na área educacional a iniciar a ocupação de um novo nicho de mercado do setor no país: o de escolas low cost, ou baixo custo, direcionadas prioritariamente à classe C.

A proposta básica é oferecer educação de qualidade, tecnologia, ensino denso de inglês, aprendizado digital e outras formações complementares com segurança e infraestrutura, mas a preços acessíveis se comparados aos praticados historicamente pelo mercado. Na maior parte dos casos, o preço das mensalidades varia entre R$ 500 e R$ 700.

Uma análise atenta do movimento de alunos do ensino infantil, fundamental e médio nos últimos anos ajuda a entender a aposta nesse nicho. Apesar da crise financeira, o número de alunos nas escolas públicas do País caiu 8% entre 2013 e 2017.

No mesmo período, as matrículas na rede privada registraram crescimento de 7% justificado, basicamente, pelo esforço das famílias para vencer as limitações impostas pela crise e oferecer qualidade de ensino com segurança aos filhos.

A tendência deverá ser fortalecida. Na avaliação dos consultores da EY Parthenon, até um milhão de estudantes de unidades públicas do ensino infantil ao médio poderão migrar para escolas privadas até 2023 se as expectativas de recuperação da economia e do poder aquisitivo das famílias se confirmarem ao menos em parte.

O projeto pioneiro, e até agora o mais ousado, nessa nova faixa de mercado é o da Escola Luminova, do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), controlador da Escola Concept, Pueri Domus, AZ, Visão e Esfera Internacional, entre outras marcas ligadas ao ensino.

De uma só tacada, o SEB abriu as primeiras quatro escolas low cost Luminova no Estado de São Paulo em 2019: três na capital, nos bairros da Barra Funda, Vila Prudente e Bom Retiro, e a quarta em Sorocaba. O plano inicial é salpicar 25 escolas pelo País, ao custo médio de montagem de R$ 2,5 milhões por unidade.

Por doze mensalidades anuais entre R$ 500 e R$ 540, a Luminosa oferece, além do conteúdo formal das séries, aulas com tablets e equipamentos eletrônicos, laboratório com tecnologia e métodos de inovação, conteúdo para desenvolvimento da autonomia dos alunos e desenvolvimento de competências profissionais e individuais para o século 21.

O diretor da unidade Barra Funda, Luciandro Sodré, não esconde o entusiasmo com o projeto. "A suprema maioria dos pais e alunos demonstra satisfação com fato de estarem ligados a uma escola bem instalada, segura e com oferta de educação de qualidade e acessível. Isso é o mais estimulante", comemora.

"Se compararmos a relação entre preço e qualidade de ensino oferecidos pela Luminova e a média do mercado, fica claro que poderíamos ter um preço maior", avalia a diretora executiva do SEB, Thamila Zaher. "Mas a intenção não é apenas privilegiar o faturamento. Criar um ambiente educacional confiável para a evolução dos filhos desses pais tão batalhadores também está entre nossos objetivos", acrescenta o diretor do projeto, o educador Luiz Magalhães.

A boa relação entre custo e benefício do projeto acabou por gerar um novo perfil de clientes. Os alunos vindos escolas públicas representam 60% do total de três mil matriculados nas quatro unidades da Luminova. Os outros 40% são filhos das classes média e média alta transferidos de escolas privadas mais caras no aperto da crise.

O R7 visitou a unidade Barra Funda da Luminova. "Uma menina veio me agradecer no início do ano porque, segundo ela, jamais tinha estudado com um livro na unidade pública em que estava", emociona-se Maria da Conceição Vieira, professora de Matemática do 3º ano fundamental.

Outra iniciativa assumidamente low costé a da Escola Mais, parceria da Bahema Educação, acionista da Escola da Vila, em São Paulo, da Ágathos Educacional e da gestora de recursos Mint com os três criadores da marca, entre eles a pedagoga Marina Castellani.

A meta desse grupo é investir, inicialmente, R$ 25 milhões para criar uma rede a partir da primeira unidade da Escola Mais, aberta no bairro da Penha, em São Paulo, com turmas do 6º fundamental ao médio, ao custo anual de 12 mensalidades de R$ 690. Os cursos incluem laboratórios digitais e de maker, inglês diário e professores com dedicação exclusiva.

A Penha não foi escolhida ao acaso: abriga as escolas particulares com os piores desempenhos médios da zona leste de São Paulo nas últimas edições do ENEM. As próximas duas unidades da futura rede também serão na região e a meta dos empreendedores é instalar 13 unidades na cidade de São Paulo até 2022.

A Kroton, outro peso pesado do setor, não pretende, ao menos por enquanto, investir em um grande programa de escolas de baixo custo para o infantil e o fundamental. "Esse nicho apresenta números atraentes, mas ainda não estamos seguros de que essa migração da pública para a privada irá se consolidar por muitos anos, a ponto de justificar grandes investimentos como temos visto", explica ao R7 o executivo Mario Ghio, diretor de várias marcas do grupo.

Mas a onda low cost poderá seduzir os executivos da Kroton no ensino médio. Eles controlam marcas como Pitágoras, Faculdades Anhanguera e o complexo editorial Somos Educação, que fornece material didático para os 32,1 mil alunos dos 47 colégios do grupo e 1,2 milhão de estudantes de quatro mil escolas parceiras.

O conglomerado mostra força também no ensino superior, com 178 campi universitários espalhados pelo país. A ideia, revela Ghio, é esperar a afirmação de rumo do ensino médio, a partir das propostas de flexibilização da grade curricular e articulação com o ensino profissional, incluídas na nova lei para essa faixa de ensino, para ocupar esses espaços com cursos médios de baixo custo nos períodos da manhã e tarde.

"A maioria desses campi opera apenas à noite com cursos universitários", explica Ghio. "Poderão ser espaços maravilhosos para cursos técnicos profissionalizantes porque possuem infraestrutura, equipamentos e laboratórios bem montados, com nível bem acima do que se costuma encontrar nessa faixa do ensino", completa o executivo. Pelo visto ainda haverá muita briga boa nesse mercado. O resultado será educação melhor e mais barata. Pais e filhos agradecem.

Fonte: portal de notícias R7