ESTUDO REVELA IMPACTOS DA PANDEMIA NA SAÚDE MENTAL DE ALUNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO

A pandemia de covid-19 trouxe inseguranças, incertezas e expôs fragilidades da saúde mental de maneira ampla em todo o mundo. Para estudantes de pós-graduação, que convivem com uma rotina de prazos, grande carga de leituras e produção de textos, o momento trouxe impactos significativos associados especialmente à pressão por produtividade.

É o que revela um estudo com quase 6 mil participantes, de todas as regiões do país, realizado com a participação de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Entre outros dados, a pesquisa aponta que 45% dos alunos foram diagnosticados com ansiedade generalizada e 17% com depressão durante o primeiro ano da pandemia. Além disso, mais de 60% relataram crises de ansiedade e dificuldade para dormir. Falta de motivação e problemas de concentração foram reportados por quase 80%.

O estudo foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde do IOC, com resultados publicados na revista científica International Journal of Educational Research Open.

Os dados evidenciam a situação de estresse enfrentada pelos discentes durante a pandemia, como explica a primeira autora do artigo, Roberta Pires Corrêa. "Os estudantes viveram incertezas, medo e perdas, no contexto estressante da pós-graduação, onde há muita pressão para ser produtivo e cumprir prazos. Um terço precisou procurar atendimento psicológico e uma pequena parcela, de quase 17%, usou medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos sem prescrição", afirma Roberta.

Os dados foram coletados entre outubro e dezembro de 2020, revelando um panorama do primeiro ano da pandemia, quando as atividades presenciais foram totalmente suspensas nos cursos. Aproximadamente 80% dos alunos tiveram que alterar seus projetos de pesquisa, sendo que 9% mudaram complemente seus estudos, 35% fizeram alterações significativas e 37%, mudanças pequenas.

A pesquisa aponta ainda como os estudantes tiveram que se adaptar a uma nova configuração de trabalho, com reuniões virtuais com orientadores e aulas remotas. O pesquisador do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC/Fiocruz, Paulo Soares Stephens, autor sênior do trabalho, afirma que os estudantes se mantiveram comprometidos com a trajetória acadêmica, apesar das dificuldades. "Eles se mostraram aguerridos e criativos para readequar suas atividades. Porém, foram afetados com altos níveis de problemas de saúde mental", avalia Paulo.

Entre os estudantes que buscaram apoio emocional, mais da metade se voltou para os amigos, segundo o estudo. Cerca de 15% procuraram seus orientadores. Apenas 1%, os comitês de apoio aos discentes. A maioria dos estudantes também não buscou a coordenação do curso de pós-graduação e 5% disseram não ter recebido apoio, apesar da solicitação.

Segundo os pesquisadores, estudos anteriores à pandemia já mostravam que problemas de saúde mental são mais frequentes entre estudantes de pós-graduação do que na população em geral. A emergência sanitária agravou a situação, reforçando a importância de serviços de acolhimento.

"Cerca de 10% dos estudantes disseram que as coordenações dos cursos ofereceram apoio aos alunos através de programas específicos. Essas ações são imprescindíveis e os programas devem investir cada vez mais nelas", diz Paulo.

"É importante que os cursos mantenham esses programas de forma contínua, para que os estudantes se sintam acolhidos e tenham confiança de que podem discutir questões de saúde mental sem preconceito", complementa Roberta.

O estudo contou com a participação de 5.985 estudantes, que responderam um formulário online no período de outubro a dezembro de 2020. Do total, 94% estavam matriculados em cursos Stricto sensu, sendo 51% no mestrado e 43% no doutorado. Quase 6% eram alunos de cursos de especialização, chamados de Lato sensu.

No geral, o perfil dos respondentes reflete o dos estudantes de pós-graduação no país. A pesquisa alcançou todas as regiões e teve participação de alunos matriculados em cursos de diferentes áreas do conhecimento. Cerca de 50% dos respondentes eram jovens, com idade entre 18 e 30 anos; 70%, mulheres; e 30% homens.

O artigo publicado é parte da tese defendida por Roberta Corrêa, no Programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde do IOC/Fiocruz. O projeto foi orientado pela professora Helena Carla Castro, chefe do Laboratório de Antibióticos, Bioquímica e Modelagem Molecular da Universidade Federal Fluminense (UFF), e coorientado por Paulo Stephens e Roberto Ferreira, pós-doutorando do IOC/Fiocruz.

O trabalho também faz parte de um projeto de pesquisa mais amplo, sobre impactos da Covid-19 e do isolamento social, coordenado pela diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge. A pesquisa contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e UFF.

Fonte: CNN Brasil